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Em defesa dos filmes Trash

O sangue num tom vermelho saturado, que escorre na tela de uma forma que parece que nosso corpo é um rio de sangue, as mortes feitas das maneiras mais toscas que você pode imaginar; monstros surreais vindo do espaço, tomates que te matam e junções de animais que você nunca cogitaria; além dos desastres naturais mais absurdos como um tornado de tubarões, ou um tornado de tubarões em chamas, e por fim um enredo que só existe para existir o filme, sem uma moral, sem precisar ler as entrelinhas de diálogos. Os filmes trash são belos. 

O gênero trash surgiu na década de 1940 em Hollywood como uma forma de atrair as pessoas para o cinema, eram os filmes que passavam antes dos filmes de grande orçamento. Esses filmes tinham como principais características, o baixíssimo orçamento, a reutilização de sets, a baixa qualidade de produção (eram filmes muitas vezes gravados em 5 dias), o exagero dos atores e o foco em ser algo rápido e que divertisse antes do filme principal. 

Na década de 70/80 eis que surgem os tão conhecidos filmes de Terror Trash e com certeza você viu e amou O Massacre da Serra Elétrica (1974), A Hora do Pesadelo(1984), Evil Dead (1981) e The Rocky Horror Picture Show (1975). Diferente de 1940, a produção deles são bem feitas, os diálogos (com exceções) são mais bem construídos, a história tem um início meio e fim, mas o melhor é que eles ainda não seguem a receita do bolo de um filme de oscar. 

Filmes indicados ao Oscar (com exceção dos filmes realmente inovadores) que seguem a risca uma receita para ganhar como Nasce uma estrela (2018) ou qualquer outro filme de guerra que se passa nos Estados Unidos perderiam feio se The Rocky Horror Picture Show (1975) ou Willy’s Wonderland (2021) fossem indicados, na minha não técnica opinião. 

Nasce uma estrela (2018) vs. The Rocky Horror Picture Show (1975)

Nasce uma estrela de 2018 é um remake de um remake de um remake de um filme de William A. Wellman lançado em 1937 e tem como casal principal Janet Gaynor e Fredric March. Na história original, Esther (Janet Gaynor) é uma garçonete que sonha em ser atriz e vai fazer bico em uma festa onde se encontra o Norman (Fredric March), que se apaixona perdidamente pela personagem, eles se casam e ele alavanca a carreira de atriz dela. Por causa de problemas com bebida ele começa a se sentir de lado e que também está atrapalhando a carreira da amada. 

Em 1976, é lançado mais um remake, mas agora com versão musical e o casal é interpretado pela diva Barbra Streisand  e o cantor Kris Kristofferson. A história é a mesma mas agora ela é cantora e segue a carreira de cantora. Anos depois, canções originais e com o casal ganhando um outro nome é lançada a versão que concorreu ao oscar de 2018 estrelando Lady Gaga e Bradley Cooper.

A história é boa, não é um romance comum, é carregado de drama e conflitos que o espectador se identifica, em todas as suas versões. A canção de 2018 foi feita para tocar na radio e ficar grudada na sua cabeça, foi uma canção feita para ganhar o público, mas já está na hora de você fazer a dobra do tempo mais uma vez.

The Rocky Horror Picture Show (1975) é uma peça musical britânica de Richard O’Brien adaptada para filme por Jim Sharman e conta a história de Brad e Janet, casal interpretato por Barry Bostwick e a perfeita Susan Sarandon, que recém noivos vão parar numa casa cheia de personagens selvagens, incluindo um motociclista e um mordomo assustador, pertencente ao icônico Dr. Frank-N-Furter, interpretado por ninguém menos que Tim Curry, que através de danças sistemáticas e canções de rock, revela sua mais recente criação: um homem musculoso e loiro chamado Rocky.

O que mais me chama atenção no filme é como conseguiram repassar a teatralitade para as telas, e como o romance se desenrola, as musicas elas estão lá porque contam a história (como um bom musical), e não por que querem um prêmio ou servem de muleta para o enredo se apoiar. 

Você se conecta com a solidão do Dr. Frank-N-Furter, que criou um ser para se satisfazer enquanto ele nao poderia voltar para a casa, o romance confuso e revelador de  Janet e Brad é muito melhor desenvolvido do que o de Ally e Jackson. 

É revoltante como só nos anos 2000 ele virou um filme “cult” por abordar questões de gênero, sexualidade e ser um filme musical de antes de 1990. Não foi indicado ao oscar e não ganhou nenhum prêmio da academia. 

Willy’s Wonderland (2021) vs. Qualquer filme de guerra onde os EUA “brilham”

Mas vamos falar de Guerra ao Terror (2008), filme de Kathryn Bigelow que ganhou o oscar de 2010, conta a história de de um esquadrão anti bombas do exército americano, em ação em pleno Iraque, composto por  JT Sanborn, interpretado por Anthony Mackie, Brian Geraghty, interpretado por Owen Eldridge e Matt Thompson, interpretado por Guy Pearce.

Eles trabalham na destruição de um explosivo, fazendo com que seja detonado sem que atinja alguém. Entretanto, um erro faz com que o artefato exploda e assim que se cria a trama do filme. Um drama de guerra onde todos os homens sobreviventes saem como herois. Não quero desmerecer os exércitos que lutaram em guerras, nem quero entrar no assunto político da coisa. Quero que foquemos no filme em si

É triste como um enredo tão previsível quanto americanos em guerra ganha um oscar. As falas saem tão não-naturais dos atores que interpretam os personagens, os slow motions nas cenas de explosões que poderiam ter sido algo inovador na época já se tornou algo cansativo e motivo de chacota para os filmes de ação de hoje em dia. 

E é aí que mora a diferença, um filme que foi feito para ser bom mas é ruim, não é um filme trash. E não me entendam mal, eu amo filmes de ação, e filmes de ação trash tem as melhores cenas, quem discorda é porque não assistiu filmes suficientes. 

Willy’s Wonderland (2021), filme inspirado no jogo chamado Five Nitghs at Willy’s, foi dirigido por Kevin Lewis, tem como personagem principal um homem misterioso interpretado por Nicolas Cage, que tem os pneus furados logo que chega na cidade e como pagamento pela troca dos pneus precisa trabalhar como zelador na abandonada (e amaldiçoada) lanchonete do Willy durante uma madrugada.

O filme te faz vibrar com as cenas de ação, os animatronics são claramente CGI, mas feitos de uma maneira que é de invejar qualquer paisgem que foi feita em CGI em alguma produção de milhões, os clichês são usados nos momentos certos. A história não tem nada de relevante, mas o arco se fecha sem aberturas para uma continuação ou ambiguidades. Nicolas Cage não tem uma fala no filme inteiro, o personagem dele não tem nem nome, e você consegue entender TUDO o que se passa na cabeça dele.

Dentro de todo gênero existem filmes bons e filmes ruins, exitem filmes trashs que não valem a pena nosso tempo, mas as regras de “bom filme” que existe entre um público mais “cult” faz com que julguemos o gênero sem nem dar uma chance a ele, por mais que o nome não seja convidativo e muitas pessoas já torçam o nariz só de ouvir falar, um filme bom é um filme bom, trash não é sinônimo de filme ruim. Filmes ruins são filmes que foram feitos no intuito de serem bons, mas não são: Esquadrão suicida 1, comédias românticas com Adam Sandler, Raya e o dragão, e sinceramente quase todos os filmes com Tom Cruise ou Brad Pitt.

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