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Mulheres nos jogos – mais prática e menos teoria, por favor

Bem, o tema de hoje é daqueles polêmicos, que sempre acaba saindo enviesado, muita gente diz “não é bem assim” e muito se fala e se faz pouco. Vamos falar de mulheres nos jogos.

Você pode até me dizer que o tema está na moda. O que é estar na moda? Se for denunciar e brigar pelo nosso espaço, então está mesmo, mas existe muito mais falatório do que ação nesse campo. Afinal, a maioria das vezes onde eventos e ações com mulheres que atuam no mercado de jogos acontecem… No dia da mulher. E o pior: sempre para falar “como é ser mulher e trabalhar na área”, e não para atestar nossa capacidade técnica sobre determinado assunto, como acontece com os homens.

Plot twist: as mulheres jogam e fazem jogos.

Parece que é algo novo, mas em 2014 o The Guardian já dizia que as mulheres representavam 52% dos gamers.Entre as desenvolvedoras de jogos, o Statista mostra que as mulheres são apenas 24% da indústria, e ainda assim é o maior crescimento da história. Não que antes fosse muito mais assim – sempre ficou na casa dos 20 e alguma coisa por cento.

Ainda se tem muito do pensamento de achar que mulheres não jogam, ou ainda que elas jogam apenas determinados tipos de jogo. Deixa eu contar uma coisa: as mulheres jogam todos os tipos de jogos. Não existe essa de que a mulher só joga um determinado tipo de jogo – assim como acontece com os homens, as mulheres também têm cada uma sua preferência.

Já no campo da indústria, existe muito isso de achar que mulheres ocupam apenas certas vagas, geralmente administrativo  E quando levamos para a participação em eventos, a coisa é ainda pior. Mulheres sempre são chamadas para… Painéis de mulheres nos jogos. São raríssimos os casos onde uma mulher é chamada porque ela é boa no que faz e tem muito a acrescentar. Na maioria dos casos somos usados como tokens para as empresas/eventos poderem dizer “olha, somos inclusivos, temos até mulheres”. Não preciso nem dizer o quanto isso é péssimo, preciso?

Vendo essa necessidade de criar uma rede de apoio, empresas e grupos têm ganhado força para demonstrar nosso valor. Eu mesma participei de um evento no Facebook Brasil sobre mulheres nos jogos, e fui parar até na comunicação global do evento.

mulheres nos jogos
Euzinha no vídeo da campanha do Facebook | Imagem: reprodução

Mas o que é ter mulheres nos jogos?

Muita gente acha que é só um selinho, um comunicado da empresa dizendo que ela é aberta à mulheres. É efetivamente criar um ambiente de trabalho onde as mulheres são valorizadas por suas competências e acolhidas em situações onde seu trabalho é questionado ou ela é alvo de comentários ou atitudes incoerentes com a profissão que ela exerce.

A começar pelo seu ambiente de trabalho. Quantas mulheres trabalham nele? Aqui na GamePlan, somos sete mulheres e seis homens, mas temos já ciência de que somos muito fora da curva. Olhamos em empresas, em eventos, e sempre é aquela coisa gritante da maioria ser homem, principalmente nos cargos de negócios. Para mulheres geralmente ficam cargos de arte, marketing/comunicação e administrativo, o que é ridículo quando a gente pensa em quantas mulheres competentes temos nos outros cargos também – especialmente em cargos de liderança e gerência.

Então vamos para sua rede de contatos: quantas mulheres você conhece que estão na indústria? Quantas pessoas você indicou o trabalho, endossou um projeto ou confiou para uma parceria ao longo da sua trajetória? Quantas vezes você serviu de apoio para alguém que estava navegando nessa indústria?

E a pior parte: quantas situações desagradáveis ou comentários maldosos você evitou ou confrontou? Quantas piadinhas sobre a aparência, assédio, ou insinuação sobre a capacidade de trabalho dela você confrontou?

Eu estou nesta indústria há 9 anos, e já passei por algumas situações bem desagradáveis, e em todas elas eu fiz com que minha voz fosse ouvida, mas muitas amigas não tiveram a mesma chance, algumas delas sofreram assédio moral e sexual. Eu já ouvi “Sinceramente não sei como você consegue seguir nesse mercado”, e aquilo me deixou dividida entre a tristeza e a motivação de continuar fazendo com que mulheres sejam ouvidas.

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Imagem: Alicia Crawford | Reprodução

Como as empresas podem ajudar nessa questão?

Para começar, tendo uma postura que não seja machista e que não prejudique a vítima.

No meio de outubro a Xbox Brasil demitiu a apresentadora por conta de ameaças que ela vinha sofrendo desde o dia em que foi anunciada como a pessoa à frente da comunicação. É exatamente isso que você leu: foi decidido punir a vítima ao invés de dar uma dura na comunidade e educar um público que tem um histórico nada bom. A Black Dragons fez justamente o contrário: um dos seus atletas fez comentários extremamente machistas após uma derrota e a empresa desligou o funcionário e fez um comunicado explicando sobre.

Não só nos jogos, mas na vida, os homens têm um papel super importante nessa luta. Como? Muito fácil: criando um ambiente onde as mulheres se sintam acolhidas e respeitadas, onde elas tenham voz e sejam tão consideradas como os homens. Além disso, os homens também podem denunciar e corrigir comportamentos machistas vindo de outros colegas, educando assim o todo. São pequenas ações todos os dias que geram grandes mudanças, dentro e fora das empresas. 

Estamos no final de 2020, em um ano bem conturbado, vivendo uma pandemia, e mesmo assim temos que vir pedir o básico: respeito e educação. Nós estamos aqui, todos os dias lutando para mostrar que estamos presentes, que somos competentes e que podemos ter uma fatia maior nesse mercado majoritariamente masculino – não porque somos mulheres, como muitos podem pensar, mas sim porque somos muito capazes.

Imagens: Alicia Crawford, vencedora do G.I.R.L. e BuildDirect

Daniele Polis

Daniele Polis

Já passou por muitas áreas - produção, community management e marketing. Hoje é especialista em negócios na GamePlan. Ama viagens, sorvete, jogos casuais e sapatos - não necessariamente nessa ordem.

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Desde 2014, a GamePlan é o destino para desenvolvedores, publicadoras, empreendedores e empresas da indústria de jogos que estejam atrás de Desenvolvimento de Jogos (serious games, co-desenvolvimento internacional, e jogos autorais), Gamificação, Desenvolvimento de Ecossistemas.

Aqui, no Compass, nós compartilhamos de forma descontraída nossos pensamentos e experiências a respeito da indústria e do mercado.

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