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“Tá ruim, mas eu não largo”: O que a fidelidade a uma franquia nos faz aturar em alguns casos

À medida que entramos de cabeça no mundo dos games, é comum escolhermos nossas franquias favoritas e segui-las passionalmente enquanto tudo evolui. Futebol, FPS, jogos de luta, RPGs, todos os gêneros, sem exceção, possuem séries que atualmente estão na casa dos 20 e até 30 anos. 

Porém, toda essa devoção tem um custo: ter que lidar com títulos de baixa qualidade ou que não empolgam tanto e nos fazem gastar nosso suado dinheirinho em experiências que estão se tornando cada vez mais caras. O pior de tudo é que ainda assim, quando anunciarem um título novo, estaremos lá mais uma vez para pagar para ver se vale o quanto custou. Spoiler: quase nunca tem valido.

Bola fora

Talvez uma das comunidades mais fissuradas que existem no Brasil seja a do futebol. Claro que isso não seria diferente no campo virtual, com títulos anuais da série FIFA e Pro Evolution Soccer sendo o epicentro de uma discussão ferrenha sobre qual seria melhor. Entretanto, apesar de todo o calor envolvendo este tópico, um consenso é certeiro: ambos estão cada vez inovando menos e custando mais.

Muitos jogadores relatam em grupos de discussão que já faz um bom tempo que as duas séries trazem cada vez menos novidades em termos de jogabilidade e gráficos, se dando ao trabalho de apenas a atualizar os elencos, e tudo isso cobrado a preço cheio. FIFA 21 foi lançado por exorbitantes R$ 300, com poucas adições e apesar da avalanche de reclamações, vendeu muito bem na sua estreia. Já a edição do PES foi mais “honesta” e tratada apenas como uma atualização da versão anterior, vendida por um valor mais em conta (ou não), entre 180 e 200 reais.

Para aumentar a polêmica, a IGN americana replicou para a versão de Nintendo Switch de FIFA 21 a mesma análise feita para FIFA 20. A justificativa foi algo como “se eles podem copiar e colar o mesmo jogo com um nome diferente, nós também podemos copiar e colar o mesmo review com uma nota diferente”. Diante de tudo isso, por que os jogadores continuam aturando este tipo de prática destas produtoras?

Imagens: reprodução

As respostas são mais simples do que se pode imaginar. Primeiro envolve a paixão do universo do futebol. Não existe apenas quem gosta, ou você é fissurado ou não liga para isto. Segundo, o fator “todo mundo joga”. Se um mesmo grupo de amigos começou jogando, claramente eles não vão querer dissolver esse elo e assim acompanharão a evolução da franquia, custe o que custar. Por fim, a esperança de que o próximo sempre será melhor. Vale mais a pena pagar para ver do que esperar a opinião de algum site especializado ou até de um amigo que já tenha adquirido. “Ninguém melhor do que eu para saber se presta para mim.”

A dura vida de quem desbloqueia bonequinhos com dinheiro

Um segundo grupo que quero retratar, e do qual faço parte há muitos anos, é dos fãs de jogos de luta. Uma das maiores alegrias deste gênero era começar um título cheio de pontos de interrogação na tela de seleção de personagens e ir liberando cada novo combatente um a um. Saudades dos bons tempos… Hoje, a habilidade de fechar o arcade com todo mundo no hard foi trocada pelo visceral Passe de Temporada. Se FIFA e PES têm lançamentos anuais, jogos de luta como Street Fighter, Mortal Kombat e Tekken, ganharam um novo método de funcionamento. O jogo é lançado de uma maneira que ele já tem conteúdo extra programado pelos próximos dois ou três anos. Para acessá-lo, basta pagar um valor ridículo, que beira já o cobrado pelo jogo, para ter tudo isso e de uma maneira que não é instantânea. 

Outra bola cantada do gênero é que após o lançamento de uma leva de personagens, o jogo será relançado com um novo preço, incluindo tudo que foi adicionado separadamente, fazendo com que quem tenha adquirido o passe separado se sinta um verdadeiro idiota. E ainda assim a adesão deste tipo de conteúdo pelo público é alta. A sensação de se ter um elenco completo nos leva a engolir a seco o quinto passe de temporada de Street Fighter V, o terceiro relançamento de Mortal Kombat 11 em dois anos e até 18 versões diferentes de Goku em Dragon Ball FighterZ.

Street Fighter V atualmente conta com 40 personagens (futuramente 45), sendo que apenas 16 estão na versão básica. | Imagem: Reprodução

Tudo isto que descrevi acima é bem óbvio, mas ainda assim nos mantemos lá, fiéis e esperançosos que estas maneiras de revitalizar o jogo sejam relevantes. Digo isto porque por um tempo gastei um dinheiro considerável com estes passes. Valeu a pena? Não. Fiquei satisfeito até descobrir o lançamento de um novo? Sim.

É só você fazer “assim”, que eu volto

Nos grupos de discussão sempre tem quem levante a bandeira do boicote: “Se não comprarmos mais as práticas mudam”, “assim eles aprenderão a dar valor para o nosso dinheiro” e “não vale a pena pagar por algo que já deveria estar completo” são discursos corriqueiros. Entretanto, sejamos sensatos, nossa curiosidade, aliada à memória afetiva e o poder da nostalgia daquilo que jogamos quando mais novos sempre nos colocará à mercê destas paixões. Claro que tem sim quem consiga largar mão e dar um basta nesse relacionamento abusivo, mas que bem lá no fundo eles sentem saudades, com certeza sentem.

Carlos França Jr

Carlos França Jr

Formado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, Carlos desempenha a função de Relações Públicas e Gerente de Comunidades na GamePlan, sendo responsável pelo contato direto entre o cliente e a mídia.

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